quarta-feira, 6 de maio de 2009

Livro de Paulo Coelho sobre mundo de Cannes é lançado em inglês .


LONDRES (Reuters) - Paulo Coelho diz que valores importantes se perderam na busca frenética pela fama e volta um olhar crítico sobre as celebridades num romance ambientado no meio do glamour e do brilho do festival de cinema de Cannes.

O Vencedor Está Só" foi lançado este mês em inglês, sob o título "The Winner Stands Alone".


O livro acompanha o rico empreendedor russo Igor, que também é serial killer, enquanto ele recorre a medidas extremas para reconquistar sua ex-mulher Ewa.


Por meio de um elenco de personagens que incluem belíssimas modelos, magnatas do cinema, candidatas a atrizes e outros, o autor brasileiro disse que escreveu "não um thriller, mas um retrato sem retoques de onde estamos agora".


Aos 61 anos, o autor de "O Alquimista", que costuma comparecer regularmente ao festival de Cannes, se propôs a tentar entender o comportamento das pessoas que frequentam o festival.


Pessoas dotadas de beleza, muito dinheiro ou as duas coisas comparecem anualmente ao resort na Riviera francesa e se digladiam para conseguir cobiçados convites para festas, perdem o sono para decidir o que vestir e sonham em ser vistas por algum olheiro e convocadas para serem a próxima revelação do mundo do entretenimento.


"Eu disse: 'Meu Deus, essas pessoas estão aqui, gastando fortunas. Cadê a diversão?' Foi essa a pergunta que eu me fiz", disse Paulo Coelho à Reuters em entrevista telefônica.


"Por que elas se comportam assim? Foi esse o ponto de partida para eu escrever um livro sobre moda, celebridade e valores, porque é também um livro sobre valores."


Tendo vendido dezenas de milhões de livros, e com "O Alquimista" prestes a ser transposto para o cinema num filme produzido por Harvey Weinstein, Paulo Coelho até certo ponto faz parte do mundo que ele procura dissecar em "O Vencedor Está Só".


Mas, disse ele, há uma diferença entre ganhar fama e fortuna graças a um talento ou paixão, como escrever, dirigir ou atuar, e querer a celebridade como finalidade nela mesma.


"Hoje esse virou uma espécie de doença", disse ele.


"Todo o mundo quer ser famoso simplesmente para ser famoso, não porque tenha algo de importante a oferecer ou algo a compartilhar."


PERSONAGENS DESESPERADOS


"O Vencedor Está Só" faz uma descrição pouco elogiosa da celebridade, e mais especificamente de Cannes, onde um elenco de personagens desesperados revela o que realmente se passa por trás dos tapetes vermelhos, iates de luxo, roupas de grife e festas chiques.


Maureen esperou três anos para conseguir ser chamada para uma reunião em Cannes com um empresário do cinema que ela espera que leve seu filme para a tela. Gabriela está empolgada porque foi convocada para um teste, e seu agente lhe manda uma mensagem de texto dizendo "aceite qualquer coisa que eles oferecerem".


A insensatez humana é exposta, e muitos sonhos são jogados por terra na medida em que poderosos procuram explorar jovens cheios de esperança de fazer sucesso.


"Não sei por que eu sempre quis isso", confessa o "Astro" sem nome quando se aproxima do tapete vermelho com Gabriela.

Paulo Coelho disse que se baseou em suas próprias experiências em Cannes.

"O livro é 100 por cento baseado em minhas próprias experiências. É perfeitamente exato. Bom, na realidade eu nunca conheci um serial killer, mas no que diz respeito à 'máquina' de Cannes o livro é 100 por cento preciso."

Ele acrescentou que, mais do que tecer uma crítica à celebridade, o livro examina o desejo das pessoas pela fama e sua disposição de seguir modismos.

"Eu queria compreender. Criticar alguma coisa é fácil... mas isto não é bom nem mau, é a realidade, e eu preciso entender essa realidade."

O escritor acrescentou que seu romance, que trata da "superclasse" de poderosos e ricos que são invejados por todos os outros, seria muito diferente se tivesse sido escrito após a crise financeira.

"Provavelmente teria sido outro livro", disse ele.

As primeiras resenhas de "The Winner Stands Alone", lançado pela HarperCollins em abril, vêm sendo desiguais.

O Financial Times menciona "a análise risivelmente simplista que Paulo Coelho faz das estruturas sociais contemporâneas", e o Washington Post conclui que a vaidade exposta em Cannes "não é tão ruim assim". "É a condição humana, afinal."


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