sábado, 9 de maio de 2009

Garotos de programa - modo de usar - continuação.


Segundo os rapazes, bissexuais assumidos desde que viraram acompanhantes profissionais, dos quatro ou cinco programas semanais que fazem, apenas um ou dois são com mulheres. A maioria das clientes (cerca de 70%) é casada. Quase todas têm mais de 55 anos e muitas não querem transar, apenas buscam companhia, jogar conversa fora e badalar. "Em abril, saí com uma senhora de 72 anos. Ela não queria sexo, só um cara legal para conversar, que a fizesse sentir bem", conta Gustavo. O programa dos dois começou com um jantar no Hotel Fasano, teve saideira no Santo Grão e acabou com um beijinho na boca, à porta do hotel onde ela estava hospedada. "Quando ela me disse que ficava grilada por ser muito mais velha, expliquei que isso era bobagem e que sua experiência valia mais do que minha juventude." Galanteios como esse fizeram com que a dupla conquistasse não apenas brasileiras, mas também estrangeiras de passagem por São Paulo. De uma delas, "uma cliente russa com bala na agulha", ganharam um presente especial: uma viagem à Europa, um ano e meio atrás.

"Ela tinha 45 anos, estava vindo para o Brasil e, através da internet, nos convidou para um programa no Rio", diz Rodrigo. O primeiro encontro entre os três aconteceu no restaurante Rubayat, em São Paulo. Ali, o preço e os detalhes do programa foram acertados. Seriam, ao todo, quatro dias no Rio, com hospedagem no Hotel Intercontinental - em dois quartos, um para ela e outro para eles, para evitar suspeitas -, jantares nos melhores restaurantes da cidade e um passeio de asa-delta. Tudo sem nenhum tostão adiantado, exceção num universo onde a praxe é o pagamento antecipado. "Cobramos antes, para evitar calotes. Há clientes que transam, gozam e se recusam a pagar", diz Rodrigo. Esse, nem de longe, era o caso da russa, que acabou presenteando cada um dos meninos com uma passagem, ida e volta, para Europa e "mil euros para torrar na viagem".

"No Brasil, ao contrário da Espanha, as mulheres ainda são conservadoras" - Rodrigo Boht, 29 anos
O tal presente, dizem os meninos, não os amarrava à cliente. O destino e o tempo que ficariam na Europa seria por conta deles. "Passamos quase um ano lá. A maior parte, na Espanha, e o restante entre Alemanha e Portugal", diz Rodrigo. "Ganhávamos melhor e saíamos mais com mulheres do que com homens." Uma delas, espanhola, chegou a pagar 1.900 euros por um programa de 10 horas com Gustavo. Rodrigo tinha outros compromissos e passou apenas 4 horas com a moça, o suficiente para embolsar 800 euros #[cerca de 2, 4 mil reais], quantia que, no Brasil, levaria três semanas para ganhar.
Desde que voltaram da Europa, no ano, os dois têm feito entre 3 e 4 mil reais por mês, valor que só atingem por toparem todo tipo de programa. Inclusive, mais de um por dia. Nesse caso, ou quando os clientes não são exatamente estimulantes, recorrem à ajudinha do Viagra. "Ao perceber que precisamos de ajuda, mastigamos meio comprimido. O gosto é ruim, mas em 15 minutos a ereção aparece."

Em breve, os rapazes devem passar mais uma temporada fora do país. "Minha mãe faleceu há oito anos e meu pai sempre foi distante. Nada me prende aqui, a não ser o carinho dos meus irmãos, que me apoiam", diz Rodrigo. Gustavo também cresceu desgarrado da família. Foi adotado, quando tinha um ano e oito meses, por uma mãe que já tinha três filhos biológicos com mais de 18 anos. "Ela queria a adoção, mas meu pai adotivo não, e deixava isso claro o tempo todo", conta. Para não incomodá-lo, o rapaz, que fazia bicos como modelo, acabou saindo de casa aos 17 anos. Um ano depois, foi dividir um apartamento com o amigo Rodrigo.

Os dois vendiam tênis em uma loja de calçados e recebiam 900 reais por mês. Como a grana era curta, muda-ram-se para uma casa maior e mais barata, para dividir as despesas com outras duas meninas que conheceram por intermédio de uma amiga. Em alguns meses, elas confessaram ser garotas de programa e, pouco tempo depois, uma delas embarcou para a Europa. O enredo fascinou os jovens, que acabaram montando uma página na internet e partiram para o mesmo trabalho. Na web, Rodrigo e Gustavo são Renan e Thiago, "para evitar o preconceito das ruas". Na cama, juram adotar o nome "que a cliente preferir". E aqui, em Marie Claire, são autores de várias dicas que compõem o manual de instruções a seguir.

"Eu testei"
Marcos*, com quem sou casada há 13 anos e tenho dois filhos pré-adolescentes, passa cerca de uma semana por mês fora de casa, por causa do trabalho. No início do casamento, isso era gostoso, dava saudades e me deixava louca de vontade de transar. Depois do quarto ou quinto ano, mudei. Fui perdendo o pique e passei a transar, no máximo, duas vezes por mês. Quase sempre, sem vontade e fantasiando como seria excitante sair com outro cara totalmente desconhecido.

Tenho amigas que já traíram seus maridos, tiveram casos com colegas de trabalho e tal, mas não era o que eu queria. Queria alguém desconhecido, para quem eu não tivesse que olhar no dia seguinte. Alguém que nunca fosse ver meu marido e pensar: "Que corno!". Minha preocupação em preservá-lo era quase tão grande quanto meu desejo de experimentar uma relação com um estranho, e acabei comentando isso com uma amiga. Foi aí que ela sugeriu a melhor forma de realizar essa fantasia, sem riscos: contratando um profissional do sexo. Ao mesmo tempo que isso me excitava, me dava pavor de pensar que alguém pudesse descobrir. E como eu chegaria no rapaz? Onde seria o encontro? O que eu faria com as crianças?

Tinha mil perguntas e não sabia como resolvê-las. Mas, essa mesma amiga lembrou-se de outra que tinha organizado uma despedida de solteira com gogo boys e pegou o contato de um dos rapazes. Ligamos para o cara e fizemos uma verdadeira entrevista com ele. Perguntamos se ele fazia programa, quanto cobrava, como era o encontro, onde deveria rolar etc. Gostei da voz dele ao telefone, mas tinha tanto medo que acabei demorando três meses para realizar meu desejo.

O encontro rolou numa quinta-feira em que o Marcos estava viajando e as crianças dormindo na casa da minha sogra. Na cara de pau (e avisando minha amiga) me mandei para um motel com decoração japonesa. Isso foi há mais ou menos um ano e o valor acertado por duas horas de programa foi de 200 reais. Conforme combinado com Allan, um moreno de olhos verdes, cujo rosto eu tinha visto numa foto tosca que ele me enviou pela internet, cheguei ao local quinze minutos antes dele, deixei a porta do quarto entreaberta e o dinheiro sobre o criado-mudo.

Fechei os olhos, como ele tinha sugerido num dos nossos telefonemas (ao todo, foram quatro), em que eu disse que tinha aflição de imaginar como seria o momento do "oi, tudo bem". E ele foi entrando devagarzinho, em silêncio, me tocando aos poucos. A chegada só não foi mais discreta porque o perfume que ele usava era forte demais, doce até. Mas seu toque era suave, gostoso e, ao contrário do que imaginei, o fato de não ter havido beijo (exigência dele) não atrapalhou a transa. Os toques foram, aos poucos, virando masturbação mútua e, depois, quando eu e ele já estávamos suficientemente excitados, a penetração aconteceu naturalmente (com camisinha, claro) e em silêncio absoluto, já que a ideia do diálogo me dava pavor. Eu gozei - ele, acho que não -, mas não foi a melhor transa da minha vida. Valeu mesmo pelo ineditismo da situação. Quando terminamos, ele se levantou, colocou a roupa, pegou o dinheiro no criado-mudo e saiu. Nem tão discreto quanto na chegada, mas igualmente educado.

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