segunda-feira, 30 de março de 2009

Como a fé influencia sua vida.



A cura de doenças, o sucesso no trabalho, a felicidade no amor, a inspiração, a solução da crise e o sentido da vida dependem de sua fé.



"Todos de pé." O padre Anísio Baldessin solta a ordem em direção ao grupo de 11 enfermos distribuídos nas fileiras de bancos à sua frente. Vestidos com aventais azul-claros, pulseiras de plástico com seus nomes e o tipo de sangue atadas ao pulso, três deles não têm força para levantar. Com os olhos cerrados, permanecem quase imóveis em cadeiras de rodas. E começam a rezar, na tentativa de se apegar à vida que insiste em acabar. Todos passaram ou passarão nos próximos dias por delicadíssimos procedimentos cirúrgicos: uma desobstrução coronária, uma intervenção torácica, um transplante. São 11h da manhã de um domingo, e na capela do Instituto do Coração de São Paulo, o InCor, não existe espaço para pequenas esperanças e desejos mundanos. Existe fé, muita fé.

Desde 2000, mais de 6.000 estudos foram publicados sobre a relação entre religião e saúde

"Comovente, não é?", diz o capelão de 45 anos após encerrar a missa. "Eles precisam lidar com a doença, com a dor, com a proximidade da morte. E sabe o que eu digo? Eu digo que rezar ajuda. Não tem milagre aqui, mas tem conforto, apoio e esperança. E você percebeu como eles saíram mais tranquilos, confortáveis, agradecidos?"

Há 17 anos percorrendo todos os dias as alas do complexo do Hospital das Clínicas, onde fica o In-Cor, o padre participa de um dos raros momentos em que religião e ciência afastam suas diferenças para concordar: ter fé faz bem à saúde. Católicos, judeus, hindus, espíritas, budistas, evangélicos, agnósticos... Não importa a religião - ou a falta de. Basta crer.

Pessoas que praticam meditação (processo semelhante a uma oração profunda) por um período superior a 15 anos têm os lobos frontais exercitados. O melhor funcionamento dessa região cerebral ajuda a aperfeiçoar a memória

De 2000 para cá, mais de 6.000 trabalhos sobre o tema foram publicados nos Estados Unidos. São documentos que professam o poder da crença e do auxílio religioso sobre a saúde combalida. Lançam dados impressionantes, como um estudo da Universidade de Pittsburgh que mostra o aumento de três anos na expectativa de vida de quem frequenta a igreja. Ou outro que aposta na redução dos níveis de cortisol, o hormônio associado ao estresse, em indivíduos religiosos. Pessoas que praticam meditação, processo físico semelhante ao da oração profunda, colocam para funcionar uma região do cérebro chamada de lobo frontal, conhecida também por aprimorar a memória.

No Canadá, cientistas da Universidade de Toronto afirmam que acreditar em Deus reduz a ansiedade. Uma pesquisa comandada pela Universidade de Miami sinalizou que portadores do HIV com alguma crença espiritual apresentam níveis maiores das células de imunidade CD4.

Aquele que tem ciência e arte tem também religião; o que não tem nenhuma delas que tenha religião!
Goethe, escritor (1832)

São trabalhos controversos. A oposição científica, religiosa e intelectual atira seus dardos em direção a questões éticas, à validade e aos procedimentos utilizados. Tenta pôr em xeque a união da medi-cina e da religião. Alerta para a redução da fé a processos químicos e impulsos elétricos. Questiona a utilidade de conectar duas áreas que correm separadas, porque atendem a ramos distintos da experiência humana. E pergunta: o.k., são lindas as imagens do cérebro ativado por uma oração profunda. Mas o que queremos com isso? Que utilidade terá para a medicina saber que uma parte da nossa massa cinzenta pisca quando rezamos?

Fotos: Elen.

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